“O que precisamos é investimento público para custeio de centros de referência em cirurgias bariátricas e de um reconhecimento da obesidade como um problema de saúde pública e fator de risco para doenças crônicas”, reforça o médico
Dados do Ministério da Saúde, obtidos em um levantamento inédito, apontam que a obesidade atinge 6,7 milhões de pessoas no Brasil. O número de pessoas com obesidade mórbida ou índice de massa corporal (IMC) grau III, acima de 40 kg/m², atingiu 863.086 pessoas no ano passado. As informações públicas foram divulgadas pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) no mês passado.
Segundo o médico especialista em cirurgia bariátrica, João Diedrich, membro da Associação Brusquense de Medicina (ABM), a cirurgia passa a ser indicada quando o IMC é acima de 35 com comorbidades ou acima de 40. “O Índice de Massa Corporal é o peso, dividido pela altura e dividido pela altura novamente ou peso pela altura ao quadrado. Como exemplo, um paciente de 102 quilos, com 1,70m de altura, tem um IMC de aproximadamente 35, se ele tiver comorbidades relacionadas à obesidade, como pressão alta, diabete, esteatose hepática ou doença do refluxo, pode ser um bom candidato a cirurgia bariátrica”, explica.
Ainda segundo o especialista, as novas regras propostas pelo CFM no tratamento cirúrgico da obesidade são de diminuir o índice de massa corporal mínima de 35 com comorbidades para 30 com comorbidades. “O paciente que usamos acima como exemplo, com 1,70m a partir dos 87 quilos, passa a ser candidato a cirurgia bariátrica se tiver comorbidades relacionadas à obesidade. Isso muda, pois os pacientes serão tratados de forma muito mais precoce, ou seja, terão menos tempo de comorbidades relacionadas com a obesidade e assim terão um desfecho, uma sobrevida muito melhor”, completa.
QUALIFICAÇÃO
O Brasil tem hoje o segundo maior número de especialistas em obesidade no mundo, ou seja, perdemos apenas para os Estados Unidos. Segundo o médico João Diedrich, “o que precisamos para mudar isso, é investimento público para custeio de centros de referência em cirurgias bariátricas e de um reconhecimento da obesidade como um problema de saúde pública e fator de risco para doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, tanto por parte da população, tanto por parte dos médicos e profissionais da saúde em geral. Sem o reconhecimento da obesidade como uma doença crônica e fator de risco para outras doenças, não temos o ponto de partida para o tratamento dela”, frisa o especialista.
SOBRE A CIRURGIA
A cirurgia é realizada de forma videolaparoscópica ou convencional. Na forma convencional, o paciente em geral fica de 4 a 5 dias internado até receber alta. Hoje em dia, a forma videolaparoscópica é amplamente utilizada. Nela são colocadas uma câmera e mais alguns portais por onde passam as pinças de dissecção para realizar a cirurgia. A grande maioria dos pacientes recebem alta em 36 horas e depois de 14 dias estão aptos a retornar às suas atividades laborais e a retornar às suas atividades esportivas.
Porém, o médico destaca a importância de manter os cuidados após a cirurgia, pois o paciente pode voltar a ganhar peso. “O motivo do reganho de peso pós-cirurgia bariátrica acontece naqueles pacientes que não tiveram as mudanças necessárias da dieta e de exercício físico, ou seja, não seguiram as recomendações dadas pela equipe multidisciplinar, que é composta pelo nutricionista, pela psicóloga e pelo endocrinologista, além do cirurgião. Essas mudanças de comportamento, tanto estética quanto de exercício físico são muito importantes para a manutenção do peso”, alerta.
QUALIDADE DE VIDA
Com relação a qualidade de vida após a cirurgia bariátrica, os pacientes apresentam uma grande melhora, segundo mostram os especialistas no assunto. “A gente sempre pensa no peso como um fator de melhora, mas o peso não é a maior importância. Tem uma frase do Dr.Garrido, que foi o primeiro cirurgião bariátrico brasileiro, que diz que ‘tratar a obesidade é muito mais do que perder peso’. Qual é o nosso foco? É aquela mãe que não conseguia sentar no chão e brincar com seu filho, aquela mãe que não se sentia ativa o suficiente para seguir as brincadeiras do filho ou aquela pessoa que não conseguia correr um, dois ou três quarteirões ou subir um simples lance de escada. Essas mudanças de qualidade de vida são muito perceptíveis para nós, que tratamos cirúrgia bariátrica e tratamos pacientes com obesidade. Esse é o nosso foco: a cirurgia bariátrica é a cirurgia da saúde e não a cirurgia da doença”, conclui o médico.