MÉDICO ALERTA PARA MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO, PRINCIPALMENTE, NOS JOVENS
Perceba quando a pessoa esta em uma situação de risco em cometer suicídio, quando notar mudanças de comportamento. Nos adolescentes, atenção com drogas lícitas e ilícitas, como em relação ao álcool, maconha, cocaína, pois são substâncias que estão relacionadas ao suicídio e também a impulsividade
Os números de suicídios preocupam. Segundo dados do Ministério da Saúde e da Organização mundial da Saúde (OMS) pelo menos 32 brasileiros tiram suas próprias vidas por dia no país e em todo mundo estima-se que acontece um suicídio a cada 40 segundos. Em Santa Catarina, nos oito primeiros meses de 2024, foram registrados 616 casos, sendo 77% (475) entre indivíduos do sexo masculino, conforme mostra pesquisa do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).
“Fazer essa abordagem de prevenção nas escolas, com a percepção dos profissionais, dos professores, dos coordenadores e dos pais, sobre às mudanças de comportamento é muito importante. A Associação Brasileira de Psiquiatria, tem uma cartilha para saber como abordar esses temas com crianças de 4 a 12 anos de idade para que elas sejam orientadas e possam se abrir com relação ao que vivem e ao que sentem do ponto de vista mental, pois vemos muitos transtornos também em crianças. O que tem acontecido muitas vezes, é que são percebidas crianças com depressão, com ansiedade, com transtornos alimentares, por exemplo, por separação dos pais. Essas são situações de maior vulnerabilidade”, explica o médico psiquiatra, Denys Deucher Tomio, membro da Associação Brusquense de Medicina – ABM.
PERCEBA OS SINAIS
Segundo o psiquiatra, identificar e perceber quando a pessoa está em uma situação de risco em cometer suicídio, principalmente, com relação as mudanças de comportamento é fundamental. Observe tanto em jovens, quanto nos adultos ou idosos, quanto às frases e as colocações. “Idosos com relação ao fim da vida, a fazer testamento, para quem deixar as coisas, no sentido de bem material, no sentido que a vida vai acabar. Já os adultos falam muito que a vida não vale a pena, que não tem mais sentido, com uma certa desesperança, desamparo. Além disso, observe quando há mudanças com relação a vida, separação, divórcio, situações que envolvem perdas financeiras, luto ou falecimento de entes queridos mais próximos. E nas crianças, observe mudança de comportamento. Uma criança que antes socializava e brincava com as outras, hoje não brinca, fica em isolamento. Nos adolescentes, fique atento a questão das drogas lícitas e ilícitas, como com relação ao álcool, maconha, cocaína, pois são substâncias que estão muito relacionadas ao suicídio e também a impulsividade. Quando a gente fala de crianças impulsivas e em adultos impulsivos, isso pode facilitar muito a tentativa de suicídio”, frisa o médico.
PREVENÇÃO
Conforme o psiquiatra Denys Deucher Tomio, é fundamental focar na prevenção, como em perceber os principais fatores de risco relacionados ao suicídio. Um destes fatores, é a questão das drogas lícitas e ilícitas. “A gente sabe a relação do álcool com a depressão e as consequências dele para esse desequilíbrio mental, e as consequências da nicotina, do cigarro, e hoje, do cigarro eletrônico. Além de todas as drogas ilícitas como a maconha, que aumenta muito o risco de desencadear transtornos de ansiedade e transtornos de humor, bem como transtornos psicóticos como a esquizofrenia, relacionado ao uso da cannabis, a cocaína, o crack, que são substâncias que tem um efeito muito danoso para a questão mental”, explica.
O médico sugere que, a prevenção precisa ser feita através de políticas públicas e privadas que visem ter um cuidado muito grande com relação aos jovens, inicialmente, pois é nesta fase que percebe-se o início do uso destas substâncias.
“É a partir daí, que vemos surgirem os problemas sociais relacionados a isso e os problemas mentais também. Por isso, a prevenção de uma maneira geral é o que estamos fazendo aqui, falando sobre este problema, sobre a percepção do ficar de olho nas mudanças de comportamento e nas situações que acontecem em nossa vida, tais como a perda de familiares, situações como aborto e naquelas onde vemos um impacto maior para a vida mental destas pessoas, o que pode aumentar as chances dela desenvolver um transtorno mental e, consequentemente, um suicídio”, esclarece Tomio.
SETEMBRO AMARELO
Praticamente 100% das pessoas que tentam se suicidar ou que realmente se suicidam, têm algum transtorno mental. Então, quanto mais falamos sobre esse tema, mais poderemos ajudar as pessoas que, muitas vezes, estão em sofrimento psíquico e que não sabem como falar sobre esse assunto ou como procurar ajuda, relata o psiquiatra Denys Deucher Tomio. Desta maneira, o Setembro Amarelo tem a intenção de alertar sobre este grande número de pessoas que se suicidam no Brasil, e até bem próximo de nós, além de mostrar a necessidade de perceber os sinais e falar sobre o que está por detrás do suicídio.

O médico lembra ainda que, algumas entidades fazem atividades contínuas, sobre prevenção e atendimentos e frisa que elas não devem ser feitas somente em Setembro. “Nós fazemos isso diariamente no nosso consultório com nossos pacientes. Estamos atentos a esses sinais de ideação, de pensamentos suicidas, mas efetivamente trabalhos maiores assim não são vistos. O maior trabalho feito, que eu conheço, é pela Associação Brasileira de Psiquiatria, que é extremamente envolvida com esse tema, através de materiais, durante o todo ano, e através de suas atividades científicas, e as atividades com relação à sociedade de uma maneira geral”, declara o psiquiatra.

Ainda segundo ele, “cada vez que um profissional de saúde, de todas as áreas, desde a medicina, enfermagem e tantos outros profissionais de saúde falarem da importância de prevenir, estaremos ajudando. Sabemos que algumas pessoas costumam falar frases do tipo: ‘as pessoas que falam que vão cometer, elas não fazem’, mas sabemos que é fundamental ficar atento no dia a dia, a essas falas e às mudanças de comportamento, ao isolamento e a outras frases como, ‘a minha vida não tem mais sentido’. Então, falar e esclarecer traz às pessoas um conforto. Muitas vezes, em casa, as pessoas não sabem como lidar com isso, não sabem como abordar, nos jovens, nos adolescentes, enfim, é um tabu. Assim, falar é muito importante e a campanha é fundamental”.
Vale lembrar que, buscar um médico especializado é essencial para ajudar pacientes e familiares. Além disso, há ainda o CVV onde as pessoas podem ligar gratuitamente e a maioria das prefeituras oferecem serviços como os CAPS, que contam com profissionais para realizar este apoio.